segunda-feira, 24 de maio de 2010

Ele

Para mais um dia o alarme o desperta. O dia nem começou e o melhor já passou, ele não sabe mais sonhar acordado. Ele tenta ser firme embora tudo se desmanche aos seus pés. Levantando da cama busca não pensar, se tornou perigoso pensar, busca simplesmente mover-se para mais um dia. O céu azul só o faz lembrar daquilo que ele não sabe mais viver. Ele entra no carro e liga o som, que não mais o incentiva, simplesmente o distrai. As tragadas do seu cigarro são fortes, a fumaça o deixa mais acordado, um leve bem-estar o domina, mas é passageiro pois seu corpo já tem dono. Ele observa as ruas enquanto se dirige ao serviço, as pessoas são de tipos variados, assim como seus olhares. Sem nenhum fundamento técnico ele busca entender o que ele observa, embora nunca terá certeza de suas certezas. Ao chegar no serviço ele procura não trocar olhares para que não haja motivos para conversas, suas palavras se perderam junto com suas convicções. No seu turno, os segundos parecem minutos, os minutos parecem horas, e as horas parecem dias. Mas acabou, são sete horas da noite. Ele sai, volta para casa, chega, toma um banho e faz um esforço para comer alguma coisa, suficiente para que seu estômago trabalhe e o deixe em paz. Sua mente o consumiu desde manhã. Chega! São 8 e meia da noite, não mais. Ele pega o comprimido, toma e espera. O efeito é rápido, 20 minutos. Um sorriso aparece em seu rosto, não ele não está feliz, mas entre agora e os 15 minutos que ele levará para adormecer ele não precisa mais pensar, ele não precisa mais fingir, ele não precisa mais viver.

Um comentário:

  1. Bastante pertinente o uso da terceira pessoa do singular, um zé ninguem indefinido que até nas decisões próprias chega a indefinir seu presente. Parabéns ae Gui. Fabio argentino

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